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As muitas mortes que atravessamos

  • Foto do escritor: Luciana Borges
    Luciana Borges
  • 31 de out. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 2 de nov. de 2023


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Quem já perdeu uma pessoa querida, principalmente quando em circunstâncias repentinas, sabe: de repente, o vazio. O luto, é um dos sentimentos mais difíceis de lidar. Uma amiga recentemente me descreveu assim: é como um buraco que nos engole. Um dos motivos para isso é porque muito difícil de fugir.


Imaginemos: um dia você acorda e bate uma tristezinha. Daquelas que a gente não sabe de onde veio nem pra onde vai. Mas que está lá. Ai você levanta, toma seu banho, prepara um café um pouco mais forte, ou decide colocar um pouco de chocolate na vitamina pra adoçar a vida. E assim vai fazendo - sempre que você percebe que aquela tristezinha está ali, você vai fazendo outras coisas que vão te ajudar a não pensar nesse incômodo. Nesse aperto no seu peito, ou até uma respiração meio curta. É ruim, daí você pega o celular e vai responder mensagens. E já está pensando em outra coisa.


Quem já estudou um pouco sobre o assunto sabe: achar outras coisas pra se distrair do que se sente não vai funcionar pra sempre. Provavelmente, uma hora essa sensação que está só batendo na porta vai chegar que nem um furacão e você vai se perguntar o que aconteceu. Mas, até que isso aconteça, dá pra ir levando relativamente bem.


O luto não. Ele simplesmente não é dessas visitas que chegam de fininho e vão ficando até o dia que você percebeu que não suporta mais essa visita na sua casa. Ele chega, derruba a porta e sequestra alguém que morava com você. E nem avisa que essa pessoa não vai voltar. A respiração não fica mais curta, você para de respirar por completo.


Pois bem, tem momentos na vida em que você não perdeu uma pessoa. Mas, ainda assim, você atravessa um luto. Pode ser a perda de um emprego, de uma relação, de um estilo de vida, até mesmo de uma identidade. De repente, deixamos de nos reconhecer. A pessoa que você vê agora no espelho não é aquela que você está tão acostumada a enxergar. Alguém entrou no lugar da outra; mas, então, pra onde foi parar aquela que eu sempre enxergava diante de mim até pouco tempo atrás? Essa pessoa você perdeu.


Aí temos também um luto. E toda perda precisa de um tempo para ser elaborada. Por vezes, receber ajuda profissional será salutar para que possa fazer essa travessia com segurança.


De qualquer modo, é impossível fugir das perdas. A grande questão é que precisaremos de força e maturidade para sentir o vazio, sem se perder nele.

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